This is a guest post in Portuguese by Christine Marote, a Brazilian expatriate residing in China. In this post Chris emphasizes the importance of learning mandarin if you want to live and experience the real China, and shares with us her efforts and accomplishments while learning the language.
Estou há quase 10 anos na China e, infelizmente, meu mandarim ainda é macarrônico (rs).
Mas existem alguns fatores que explicam (não justificam) essa minha situação.
1. Nos primeiros 4 anos de idas e vindas a Chang Chun (norte da China), aprendi algumas palavras básicas para me virar, porque na ‘China real’, ou você fala mandarim ou fala mandarim. O inglês pouco te salvará de uma situação difícil.
2. Em 2009 mudei para Shanghai, com muitas facilidades na minha vida: motorista que falava o básico de inglês (como eu – rs), morando em condomínio internacional onde todos da administração falavam inglês e resolviam meus problemas diários, filhos estudando em escola internacional e pela idade não pegaram a fase do mandarim compulsório (ou seja meus filhos não falavam uma língua que eu não entendia).
3. A comunidade estrangeira é imensa aqui, uma verdadeira Torre de Babel, e se eu quisesse ter amigos teria que falar que idioma? Inglês.
Bom, ai por mais estranho que possa parecer, eu vim para a China e me matriculei numa escola de Inglês!!! =]
Naquela época era o que garantiria minha sobrevivência com qualidade de vida. E em Shanghai, dentro da bolha dos laowai (estrangeiros), o inglês é importante. Tem quem não fale, mas aí acaba fechado no mundo da sua comunidade, o que não vejo vantagem alguma, já que estamos num lugar aberto ao mundo. E uma das coisas que mais me fascina é essa coisa de conhecermos gente do mundo inteiro!
http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/legalcode
Na China, ao contrário de outros países, como a Alemanha, o governo não obriga estrangeiros residentes a aprender o idioma local. E sabe aquela coisa de ‘zona de conforto’, acomodação? Pois é… Também existe na China. De uma maneira diferente, mas existe. Principalmente se vivemos em Shanghai.
Resumindo, hoje já me comunico melhor, acabei fazendo um curso básico numa escola particular e depois um curso de verão na Universidade. Se estou contente com meu mandarim macarrônico? Não. E ainda vou melhorar um pouco isso. Mas gente… Precisa de dedicação. E muita. Mandarim não é a língua que você aprende, lendo um livro, assistindo um DVD, tentando conversar e as pessoas te entendem, na maior parte das vezes, mesmo a pronúncia estando errada. Isso só vai acontecer quando está num estágio muito avançado de conhecimento da língua.
Mandarim é ‘osso’! Começando pela saga dos quatro tons, que vocês podem conferir nesse post aqui no meu blog. Se você muda a entonação, e sempre costumo dizer que para nossos ouvidos elas são algo meio surreal, ninguém te entende. Até porque a diferença entre as palavras ma 嘛, mà 骂 , mǎ 马 e mā 妈 são imensas. Na ordem que se apresentam: 1) interjeição de ‘bem’ ou no final da frase a entonação da pergunta, 2) ruína, maldição, 3) cavalo e 4) mãe. Agora os caracteres, como vocês podem notar, são completamente diferentes. O que para o chinês torna difícil a compreensão de porque nós confundimos as palavras já que muitos nem conhecem o tal de pinyin (escrita romanizada dos caracteres).
Os chineses são alfabetizados através dos caracteres e a maioria deles (que estão na faixa dos 35 anos ou mais) não sabe nem sequer o que significa o alfabeto ocidental. Mesmo hoje, a criança somente é apresentada ao pinyin depois de dominar a escrita de caracteres. Para vocês terem uma ideia, é necessário saber ao menos três mil caracteres para conseguir ler um texto básico em mandarim.
Então vocês já viram que a dedicação para aprender essa língua tem que ser quase que exclusiva. E estudar muito, mas muito mesmo. Somente as horas na sala de aula não são suficientes para se aprender mandarim. Principalmente se a opção for um curso na universidade, onde eles só falam algumas palavras de inglês (para te ajudar um pouco) nas primeiras três semanas. Depois, ‘se vira nos 30’. E depois do segundo semestre, até o pinyin é meio que abolido dos livros didáticos. Tem que saber ler os caracteres.
Claro que existem cursos particulares que são muito bons e te ensinam tudo em pinyin. Além do que, de uns dois anos para cá a diversidade de material didático criado para facilitar o aprendizado da língua e principalmente a memorização dos caracteres é enorme.
Ah, esqueci: memorização. Sim, não há outra maneira de aprender a escrever os caracteres: tem que ser no velho método da decoreba. E nisso os chineses são campeões. Todo o sistema educacional aqui, e ainda hoje é assim, é baseado no decorar, memorizar. Uma vez li uma entrevista (acho que foi em 2010) do então ministro da educação chinês em que ele dizia que o governo estava ciente que o sistema educacional do país formava ótimos operários, mas péssimos líderes. E que isso teria que mudar, devido às mudanças econômicas da China.
As coisas estão mudando, mas ainda é muito difícil a concepção de ‘questionar’. Quando fiz o curso na universidade e, meu lado curioso latente, perguntava ‘mas porque isso é assim?’ Ouvia um solene: ‘porque é assim’. ‘Mas…’, ‘Sem mas… é assim e pronto’. E recebia as costas da professora que começava outro tópico e eu ficava ‘a ver navios’…rs
Essa é outra coisa interessante do chinês: quando ele não sabe o que te responder, ele te ignora, muda o rumo da prosa ou simplesmente te fala ‘deve ser’ ou ‘eu vou tentar o meu melhor’. Dificilmente você ouvirá um não direto ou ‘eu não sei a resposta’ de um chinês. Isso tem haver com a cultura de não falhar, não ‘perder a face’.
Mas depois de tudo, para acalentar as esperanças dos interessados em aprender o idioma mais comentado da atualidade, eu garanto: não é impossível. Conheço inúmeros estrangeiros que falam o mandarim fluente. Muitos, mas muitos mesmo, brasileiros. Só que desses, 95% estudaram muito. E quando digo muito, realmente entendam assim.
Até a próxima!
Este post foi originalmente publicado no blog Brasileiras pelo Mundo.
ABOUT THE AUTHOR:
After Christine Marote spent 4 years traveling between Brazil and China (Chang Chun, Jilin Province), Christine decided to move to Shanghai in January of 2009. In 2010 she decided to create a blog and share her experiences as a Brazilian expat living in China, and soon her blog became a source of information for foreigners and expats like her that have decided to live in China.
Her blog ‘China na Minha Vida’ describes Christine’s experiences, language challenges, cultural differences and curiosities, and the rich and diverse culture of China in an interesting way.
Christine is Brazilian, holds a degree in Education, and a Masters in Chinese Business and Culture from Jiaotong University.